ESG no Brasil: da Narrativa à Estratégia

Nos últimos anos, o ESG deixou de ser visto como um “discurso bonito” para se consolidar como critério de avaliação estratégica e financeira para empresas de todos os portes. Segundo a PwC, até 2025 cerca de um terço dos ativos globais (US$ 33,9 trilhões) estarão sob gestão com foco em práticas sustentáveis. Esse dado revela algo importante: sustentabilidade não é custo, é valor.

No Brasil, vivemos um momento singular. A publicação da ABNT PR 2030, em 2022, colocou o país na vanguarda mundial ao criar critérios mínimos para a implementação do ESG desde pequenas empresas até grandes corporações.

Diferente de outros frameworks, ela democratiza o acesso, tornando o ESG viável também para negócios de menor porte — aqueles que representam mais de 90% das empresas no Brasil.

ESG como fator estratégico na Valoração e Sustentabilidade das Empresas

Um equívoco comum é acreditar que ESG só é aplicável a grandes multinacionais. Mas a prática já mostra o contrário: pequenas empresas podem adotar compromissos proporcionais, como um Manifesto de Sustentabilidade, adesão ao Pacto Global (cuja taxa é acessível para PMEs) ou até certificações específicas de seu setor.

Essa proporcionalidade não diminui a relevância — pelo contrário, abre espaço para diferenciação competitiva, atração de talentos, acesso a novos clientes e mercados.

Além disso, dados do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) comprovam que empresas comprometidas com ESG tendem a apresentar desempenho superior à média do mercado, mostrando que a integração de práticas sustentáveis não apenas reforça a reputação, mas também entrega resultados financeiros consistentes.

O papel do líder de Organização e do conselheiro nesse cenário é estratégico. Mais do que acompanhar relatórios, cabe a ele provocar reflexões críticas, antecipar riscos, direcionar investimentos conscientes e conectar o propósito organizacional às práticas ESG.

É na sala de conselho que se decide se ESG será apenas um selo de marketing ou uma alavanca de crescimento, perenidade e impacto positivo. A governança, portanto, não é o último passo da jornada ESG – ela é o primeiro.

Outro ponto essencial é a materialidade, que orienta empresas a focarem em temas realmente relevantes para o seu setor e stakeholders. Na construção civil, pode significar gestão de resíduos; em telecomunicações, inclusão digital; em educação, impacto social e formação de competências. A clareza sobre o que é material evita esforços dispersos e transforma o ESG em estratégia aplicada.

O Brasil tem a chance de liderar essa transformação global, combinando inovação regulatória, empreendedorismo e impacto social. Cabe a nós, conselheiros e líderes, garantir que o discurso se converta em prática, que a sustentabilidade deixe de ser apenas relatório e se torne parte da cultura organizacional.

Afinal, ESG não é sobre o que a empresa publica, mas sobre o que ela pratica e entrega para a sociedade.

Como conselheiro de empresas e presidente do Instituto Mais Água, minha atuação tem sido justamente nessa interseção entre governança, impacto social e sustentabilidade. Acredito que a experiência no Terceiro Setor fortalece ainda mais o olhar sobre ESG, pois traz a dimensão humana e comunitária que muitas vezes falta às corporações.

👉 Se sua empresa ou organização busca alinhar propósito, governança e impacto real, será um prazer conectar e explorar como podemos construir juntos soluções sustentáveis e transformadoras. Fale conosco!

Principais dados e tendências de ESG no Brasil

• Volume em Fundos: Em 2020, fundos ESG no Brasil captaram cerca de R$ 2,5 bilhões, sendo mais da metade desse volume de fundos criados nos 12 meses anteriores[3]. Apesar de ser um valor modesto em comparação ao mercado europeu, o crescimento é acelerado.
• Adoção Corporativa: O ESG se consolidou como parte estratégica das empresas, com crescente demanda por padronização, transparência e relatórios automatizados, além de pressão de investidores e consumidores[1][4].
• O governo brasileiro está desenvolvendo uma taxonomia nacional de sustentabilidade, fundamental para unificar critérios e facilitar a identificação de empresas e projetos verdadeiramente sustentáveis[1].
• Em 2025, espera-se avanço tecnológico na coleta e análise de dados ESG, o que potencializa a rastreabilidade e o impacto dos projetos, inclusive de ONGs envolvidas em cadeias de valor.

Envolvimento de ONGs e OSCs em ESG no Brasil

• ONGs são imprescindíveis para o pilar social do ESG, e seu trabalho é frequentemente reconhecido em relatórios de sustentabilidade e em anuários do setor privado.
• Empresas de destaque em ESG mantêm parcerias constantes com OSCs, seja para executar ações sociais, mobilizar voluntariado ou implementar projetos socioambientais em larga escala (por exemplo, a atuação do Instituto Sicoob).
• O alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU é uma exigência crescente e, na prática, são as OSCs que operacionalizam parte significativa dessas metas em comunidades locais, influenciando diretamente resultados sociais reportados a stakeholders.

Limitações dos dados públicos sobre o tema

• Não existe ainda um levantamento nacional unificado que quantifique a participação ou os resultados diretos das ONGs no panorama ESG brasileiro — esses dados costumam aparecer “embutidos” em relatórios anuais de empresas, em anuários setoriais (como o Integridade ESG) ou em publicações de organismos multilaterais.
• O envolvimento das ONGs é mais visível no impacto social atestado por grandes empresas e fundos, geralmente reportado como números de beneficiados, campanhas e alcance de projetos.